O flâneur e a atitude blasé - Parte I
A atitude blasé matou o flâneur
que existe dentro de nós? Sabemos que a vida na metrópole não é fácil, sempre
estamos sem tempo, não aproveitamos ao máximo, nunca podemos ficar um pouco
mais. O tempo nos parece insuficiente e o pouco que temos é tratado como algo
sagrado. Não conseguimos apreciar o que acontece ao redor, o trabalho nos ocupa
a maior parte do dia e sobra pouco para aproveitar o “resto da vida”.
Muitos autores falaram
sobre isso, mas, Benjamim e Simmel foram - para mim – os maiores críticos em
relação à divisão/especialização do trabalho, ao capitalismo, às atitudes das
pessoas nas cidades e à emergência das metrópoles. Lendo os textos dos dois, é
possível encontrar um pessimismo contagioso que nos faz pensar se estamos
aproveitando o tempo e as oportunidades, se estamos realmente fazendo certo
quando nos entregamos ao máximo a uma coisa específica e deixamos outras para
depois, se perdemos (ou nunca tivemos) um
flâneur em nós.
O flâneur é a figura dos poemas de Charles Bauderlaire, o cara que
anda por Paris com um prazer incomparável, que caminha quase parando, que
aprecia a cidade, que observa as pessoas em suas atividades rotineiras, que tem
paixão pela cidade. Mas o flâneur é
um burguês com tempo “sobrando” e que, provavelmente, foi criticado àquela
época e seria quase “fuzilado” com chamamentos como “à toa, inútil, preguiçoso,
vida boa” nos dias de hoje. Benjamin vê o flâneur
como a resistência ao progresso e ao capitalismo. Para Massagli, o flâneur de Benjamin “está no contrafluxo,
(...) é o
elemento de resistência ao progresso. É um cronista da cidade. Gérmen de
crítica e de resistência. O flâneur
é tudo aquilo que resta de um passado que o capitalismo destruiu (...)
um tipo de herói da modernidade”.
O que nos interessa aqui é
a figura do apreciador da cidade, do observador e do desperdiçador de tempo. Isso
é o que perdemos, ou deixamos de desenvolver, o ritmo lento, a flâneurie como forma de experimentar o
espaço urbano. Acredito que temos o que Simmel chamou de atitude blasé. A atitude blasé também
está diretamente relacionada ao lado ruim da metrópole. Resulta da fisiologia
humana, da economia, da divisão do trabalho e da forma como a cidade é vivida...
Referências:
Massagli,
Sérgio Roberto. Homem da multidão e o flâneur no conto “o Homem da
multidão”
de Edgar Allan Poe. Disponível em: http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol12/TRvol12f.pdf
Carlos,
Ana Fani Alessanndri. A rua: espacialidade, cotidiano e poder. IN: O lugar
do/no mundo. São Paulo: 1996.
"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
ResponderExcluirE por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."
Dalai Lama